Neste início de junho aconteceu a segunda edição do Agrotech Conference, evento organizado pela empresa StartSe e que reuniu centenas de produtores, empreendedores, investidores e empresas startups focadas em soluções inovadoras para o agronegócio.
Para aqueles que ainda não conhecem, a StartSe é uma jovem empresa que tem como propósito aproximar empreendedores, startups, investidores, fundos de investimento e profissionais, com o objetivo de acelerar negócios no ecossistema de startups, em diversos setores. O Agro é mais um desses segmentos e, nesta segunda edição do evento, reuniu mais de 800 pessoas na cidade de São Paulo.
Assim como em outros mercados, as startups têm potencial de revolucionar o agronegócio. Pequenas empresas, altamente inovadoras, estão criando soluções que prometem facilitar o dia a dia do campo. Em diversos estágios de desenvolvimento, tamanho e número de clientes, as empresas mostraram além de suas soluções, os desafios de empreender e crescer em um mercado que já começa a ser impactado pela digitalização dos processos produtivos.
No palco principal foram vários os casos já de sucesso, mas certamente chamaram atenção duas empresas que têm a gestão integrada de dados, produtividade e redução de custos como seu foco, e ambas hoje são controladas por grandes corporações. Falo da Strider, adquirida recentemente pela Syngenta, e a Climate, adquirida em 2013 pela Monsanto.
A primeira, a Strider, uma empresa brasileira fundada em 2013 por empreendedores de Belo Horizonte, teve um crescimento rápido, alcançando seu primeiro milhão de hectares monitorados em menos de três anos. Essa performance certamente foi preponderante para a tomada de decisão de compra, que, segundo o diretor de marketing da Syngenta, André Savino, “havia decidido que precisava investir no setor para se tornar ainda mais relevante para o agricultor”.
Para o co-fundador da Strider, Luiz Tângari, a operação conjunta fazia todo sentido, pois o produtor deseja sucesso, seja através de software ou agroquímicos, e uma solução completa facilita esse objetivo. Apesar disso, ambos os lados deixam claro a intenção de manter operações separadas e independentes, para manter o espírito de startup. Apesar da curiosidade geral, as empresas não divulgaram o valor da operação.
O segundo caso, da Climate, tem uma dimensão bem maior. A Climate foi fundada em 2006 no Vale do Silício, com o propósito de ajudar pessoas e empresas a se adaptarem às mudanças climáticas. Somente em 2010 decidiu focar exclusivamente em agricultura, com um produto relacionado ao seguro de safras de soja e milho, e já em 2013 foi adquirida pela Monsanto por US$1,1 bilhão. A partir de 2015 seu foco foi direcionado para o uso de dados de lavouras, meteorologia e históricos de produção para prover aos produtores mais conhecimento e projeções de produção de suas lavouras.
Menciono estas duas empresas adquiridas por Syngenta e Monsanto para chamar a atenção para este movimento de aquisições de startups. Aqui no Brasil ainda estamos na fase inicial desse processo de desenvolvimento de startups do agro, mas, olhando o mercado americano, é impressionante a quantidade de negócios dessa natureza. Empresas tradicionais e estabelecidas estão atentas e fazendo aquisições que agregam novas tecnologias em produtos e serviços. Para ilustrar, segue abaixo um resumo de recentes aquisições de algumas grandes companhias do agro:
Nos próximos meses e anos certamente esse movimento deverá se intensificar por aqui. Na medida em que mais startups se consolidem como provedoras de serviços ou produtos de valor agregado, grandes companhias deverão seguir o exemplo americano de incorporação de inovação por aquisições. Uma oportunidade para jovens empreendedores!
Paralelo à conferência, foi montado um palco para apresentações curtas e diretas, os “pitchs”, onde estiveram mais de vinte empresas mostrando suas soluções tecnológicas, em sua maioria ainda em fase inicial de aplicação. Mas várias já tracionando e aumentando suas bases de usuários. Em breve falaremos destas empresas e oportunidades em nosso blog.
Eventos como o Agrotech Startse, de discussão e debate sobre os desafios do agro e o encontro entre empreendedores e produtores, certamente vão gerar oportunidades para novas empresas e soluções inovadoras. Com o grande interesse demonstrado neste e em outros eventos similares recentes, fica claro que o agro está no radar de jovens empreendedores e isso é muito bom. Vamos acompanhar!
Daniel Azevedo Duarte é editor-chefe do AgEvolution do Canal Rural, Mestre em Jornalismo (UCM/USP), MBA em Agro (FGV) e entusiasta da inovação no agro. Também é professor em Comunicação no Agro na PUC de Campinas e correspondente de publicações internacionais sobre o setor.