Inovação
Soluções criativas superam até mesmo as geadas
Métodos incluem "lareiras" e "iglus" para uva e café e molécula que esquenta plantas; veja os vídeos
A imagem de milhares pequenas fogueiras aquecendo um vinhedo (veja o vídeo no final deste texto) viralizou nas mídias sociais também por conta da intensa onda de frio e geadas durante estes dias na metade Sul do Brasil.

Vinhedos da região de Borgonha, na França, usam a técnica para proteger as uvas.
Apesar de não ter sido feita aqui no País e, sim, na cidade de Chablis, região de Borgonha, na França, a técnica é realmente viável para proteger parreiras e até mesmo cafeeiras contra geadas.
Contudo, a solução não é a melhor e nem mesmo eficiente contra todos os tipos de geada, especialmente a geada negra (que vem acompanhada de vento).
O AgEvolution falou com dois especialistas para descrever esta e outras técnicas utilizadas contra o fenômeno climático que deve estar preocupando muitos produtores de uva, café e outras culturas.
Antes de mais nada, no caso das videiras, a geada só é um problema real durante o período de floração das plantas, que ocorre no Brasil mais a frente, normalmente, a partir de setembro.
Fora deste período, algumas das variedades de uva mais cultivadas por aqui (como a chardonnay e a pinot noir) estão sem flores e, assim, poderiam aguentar até 25° graus negativos.
Em todo caso, as belas fogueirinhas são um recurso, apesar do manejo trabalhoso e caro, pois funcionam como uma espécie de lareira quase individual para cada planta em um raio limitado.
O calor do fogo aquece o ar mais próximo ao solo e se une à faixa acima dos 5 metros de altura, criando uma espécie de bolha mais amena, que mantem o ar frio em uma camada mais alta.

Após irrigação leve, água acumulada vira gelo e cria efeito “iglu” para proteger as plantas. (foto – Maurício Fugalli)
“No caso do fogo, é melhor ter focos menores e em maior quantidade. A imagem na França tem milhares de latinhas acesas. Apesar dos custos e do trabalho, é o melhor paliativo depois da água”, diz Leonardo Cury, professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul.
Água no frio? Segundo o especialista, é exatamente isso. Irrigar os vinhedos com baixa pressão e no horário correto pode gerar um efeito “iglu”, ou seja, o próprio gelo criar um casulo de proteção contra a geada.
Leonardo ainda deixa mais uma dica. Preferencialmente, os vinhedos e cafezais em áreas com mais risco de geada não devem ser voltados para o Sul e nem ficar em baixadas ou vales.
O motivo é justamente mitigar os efeitos das geadas negras, aquelas que trazem também vento e, assim, potencializam o efeito do frio nas plantas, especialmente nas flores.
Mais opções

Máquina de calor TPC cria inversão térmica com jatos de ar quente de até 130º graus. (foto – Aline Mabel Rosa)
A engenheira agrônoma Aline Mabel Rosa acrescenta ainda outras soluções para a questão da geada. Apesar de o Sul do país não estar em período de florada na viticultura, produtores de pêssegos e ameixas podem sofrer prejuízos nesta frente fria.
“Na Serra Gaúcha, não tem uva ainda, mas tivemos uma intensa em agosto de 2020 e outras culturas também podem sofrer. No ano passado, usamos as fogueiras e também a máquina de calor (veja o vídeo no final do texto) durante três madrugadas seguidas”, conta.
Segundo Aline, alguns produtores de frutas de clima temperado da região já estão realizando irrigação para controlar o problema neste ano. Inclusive, a especialista também cita o uso de aminoácidos e até melaço de cana.
“Temos visto também resultados com uso de aminoácido ou melaço antes e depois da geada. Além disso, a máquina de calor também pode ser usada já que consegue o efeito de inversão térmica”, explica.
No ano passado, o equipamento foi usado para proteger as parreiras de chardonnay na propriedade da Família Geisse em Pinto Bandeira, município na Serra Gaúcha, um dos principais polos da viticultura do Brasil.
A máquina TPC é acoplada a um trator e emite ar quente, a cerca de 130 graus, para esquentar o ambiente e empurrar o ar frio para cima. No caso em questão, o trabalho foi realizado durante a madrugada inteira.
Molécula “quente”
Outra solução ainda mais disruptiva poderia, até mesmo, permitir o cultivo de commodities a baixas temperaturas e revolucionar o agro. Uma descoberta da Universidade de Amsterdã pode garantir às lavouras bom desempenho mesmo no inverno do hemisfério norte.
O grupo de pesquisadores holandeses criou um novo tipo de molécula capaz de elevar a temperatura das plantas. Em testes de laboratório, o efeito do aquecimento molecular permitiu, por agora, aumentar a temperatura das folhas em mais de um grau Celsius.
Deste modo, os cientistas argumentam que a descoberta é o primeiro passo para aumentar muito a produção de alimentos e biomassa na Europa, América do Norte e outras regiões frias do globo.
Confira os vídeos com estas soluções em funcionamento:
Técnica do fogo –
Técnica do “iglu” após irrigação –
Máquina TPC –
AUTOR:
Daniel Azevedo Duarte
Daniel Azevedo Duarte é editor-chefe do AgEvolution do Canal Rural, Mestre em Jornalismo (UCM/USP), MBA em Agro (FGV) e entusiasta da inovação no agro. Também é professor em Comunicação no Agro na PUC de Campinas e correspondente de publicações internacionais sobre o setor.
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