Primeiro bezerro editado geneticamente completa um ano em abril
Pesquisa usou edição gênica para gerar animais machos, 15% mais eficientes na produção de carne
Por Daniel Azevedo Duarte
COMPARTILHE NO WHATSAPP
O bezerro Cosmo, primeiro bovino com genoma editado por CRISPR no mundo, completará um ano de idade com saúde nesta semana. O animal é resultado de um projeto de edição gênica da Universidade Davis da Califórnia descrito na American Society of Animal Science.
Os pesquisadores fizeram a edição gênica com objetivo de garantir que o bezerro fosse macho. Para isso, eles inseriram com sucesso o gene SRY no embrião, que é responsável por iniciar o desenvolvimento dos machos.
Os animais machos são cerca de 15% mais eficientes na conversão de ração e podem atingir pesos maiores. Assim, além de redução de custos, produtores poderão produzir mais carne com o mesmo número de animais.
“Prevemos que a descendência do Cosmo vai herdar o gene SRY e também será de machos, independentemente de herdarem o cromossomo Y”, disse Alison Van Eenennaam, geneticista animal do Departamento de Ciência Animal da UCD.
A tecnologia também pode ser benéfica para o meio ambiente pois, segundo a pesquisa, os pecuaristas poderiam produzir algumas fêmeas para reprodução e direcionar uma proporção maior de gado macho para o mercado.
O gene SRY inserido no cromossomo bovino 17 é seguro. Isso garante que os elementos genéticos funcionem de forma previsível e não interrompam a expressão ou regulação de outros genes. Essa é a principal diferença dos organismos geneticamente modificados, que contam com genes externos.
Espera-se que Cosmo produza 75% de descendentes machos – os animais normais 50%. “Demorou dois anos e meio para desenvolver o método e outros dois anos para estabelecer uma gravidez com sucesso”, disse Joey Owen.
O CRISPR funciona como uma tesoura molecular programável, que corta a dupla hélice do DNA para alterar o genoma e, potencialmente, pode ser usado para editar qualquer ser vivo.
No caso da pesquisa com o Cosmo, a USDA financiou uma bolsa de cinco anos no valor de US$ 500 mil (R$ 3 milhões) para a pesquisa. O primeiro passo foi tentar que o CRISPR fizesse as edições em embriões bovinos e inseri-los nas reprodutoras, mas não funcionou.
A segunda editou o embrião e produziu um clone para, enfim, realizar a implantação na fêmea. Neste caso, a reprodução com concluída com sucesso. Pesquisas com CRISPR em bovinos também estão sendo desenvolvidas na China e Nova Zelândia.
A equipe neozelandesa usou a técnica para criar vacas leiteiras com manchas cinzas em vez de pretas, o que diminuiria a quantidade de calor que o animal absorve enquanto está no pasto.
A mutação do gene foi conduzida em células da pele fetal de um macho da raça Holstein. Os cientistas eliminaram com sucesso o gene, que causa a coloração preta, e produziu em “um forte efeito de diluição de cor”.
No entanto, os dois bezerros nascidos com a mutação genética morreram como resultado do processo de clonagem usado no experimento – não do componente de alteração do gene.
Indústria
Na indústria de carne bovina, mais machos significa mais dinheiro. Como os bezerros ganham peso com mais eficiência que as fêmeas, os fazendeiros poderiam produzir as mesmas quantidades de carne com menos animais.
Isso poderia abrir caminho para a criação de outras espécies de um único sexo – galinhas poedeiras, suínos e rebanhos de vacas leiteiras – e, para um sistema de produção industrial de alimentos mais sustentável.