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Carne de Laboratório

Pesquisa mapeia 50 projetos para carne de laboratório no mundo

Maioria dos brasileiros rejeita por desconfiança e preços de até R$ 50 mil por hambúrguer

O mercado global já possui ao menos 50 projetos para desenvolvimento e comercialização de “carne de laboratório” em 19 países, inclusive o Brasil. O levantamento, realizado pela Esentia Inteligência, evidencia uma verdadeira corrida para a alternativa tecnológica à produção tradicional de carne.

carne de laboratório

Hoje exorbitante, preço do hambúrguer de carne sintética deve cair a US$ 50, em 2030, e US$ 20 até 2050, prevê o estudo.

Sob a justificativa de proteínas animais mais “sustentáveis”, iniciativas de diversas partes do mundo estão investindo pesado no desenvolvimento das também conhecidas por carnes “in vitro”, “cultivadas”, “limpas” ou “sintéticas”.

Contudo, no caso do Brasil, 51% dos consumidores ainda rejeitam a ideia de provar o produto.

Segundo a consultoria brasileira, o mercado de carnes de laboratório deve movimentar US$ 140 bilhões a partir de 2030. Naquele ano, a previsão é que 10% do mercado mundial de carne seja atendido por carne de laboratório e que, em 2050, 35% da carne consumida no mundo venha dessa fonte.

Um aspecto importante para isso é o preço exorbitante que, no entanto, deve melhorar. O valor cobrado por um hambúrguer de carne cultivada, por exemplo, já caiu bastante nos últimos anos, mas ainda está entre US$ 2 mil e US$ 10 mil (entre R$ 10,4 mil e R$ 52,2 mil).

A expectativa é que, em 2030, caia para US$ 50, quando a carne estaria disponível em restaurantes. Em 2050, deve chegar a US$ 20. De acordo com a Esentia, contudo, é possível que haja um barateamento mais acelerado.

Desafios e desconfianças

Mas, como em toda nova indústria, ainda há desafios e desconfianças a serem superados. Diferentemente dos plant-based, já mais consolidado, a carne cultivada ainda está em uma fase de validação da tecnologia.

Uma das consequências disso é a incerteza quanto à qualidade do produto final, o que vai exigir investimentos robustos e pesquisas high-level.

Além disso, questões financeiras para a chegada efetiva destes produtos às prateleiras dos supermercados devem ser consideradas. Desde de custos que viabilizem a produção em escala até a tributação necessária para obter a aprovação regulamentar.

Consumidor brasileiro

O estudo da Esentia, realizado entre abril e maio, mostra uma divisão entre os consumidores brasileiros em relação ao produto, com “rejeição” entre 51% dos entrevistados.

Entre os fatores estão a indisposição em provar a carne cultivada, questões políticas (veganismo e vegetarianismo) e gosto pessoal. Para a consultoria, ainda há um longo caminho para a efetiva substituição da carne convencional pelo produto de laboratório nas mesas dos brasileiros.

Sob o ponto de vista dos consumidores, existem dúvidas frequentes se a carne cultivada em laboratório pode ser tão boa quanto a carne convencional e se ela irá aguçar o seu apetite da mesma forma.

“Os resultados sugerem que, mesmo que a carne de laboratório não se diferencie da convencional em aparência, textura, consistência, cheiro e sabor, o processo de produção pode resultar na percepção de um sistema de produção não natural”, disse o estudo.

Por outro lado, a disposição em provar é maior do que a disposição em comê-la e substituir as carnes convencionais efetivamente. Neste quesito, 33% apresentaram um sentimento positivo para as carnes cultivadas.

Entre os principais atributos, sejam negativos ou positivos em relação às carnes de laboratório, cinco se destacam: saudabilidade, custos, segurança, impacto ambiental e bem-estar animal.

Como funciona?

O modelo já é investigado há anos e tem a promessa de que o produto tenha o mesmo sabor, textura e cheiro de um produto genuinamente animal. Em linhas gerais, esta tecnologia é baseada na multiplicação em laboratório de células retiradas de animais.

A primeira fase visa a extração de células animais através de uma biópsia, com a coleta de células-tronco musculares, aquelas que fazem crescer tecido novo quando um músculo é lesionado.

Em seguida, as células são colocadas em um meio de cultura com fatores de crescimento e nutrientes e começam a se multiplicar. A evolução é potencializada por reatores biológicos, até que as células se aglutinam dando origem a pequenos filamentos que se juntam para formar o tecido muscular.

Pioneiros

A Europa tem para si o anúncio da primeira carne de laboratório, produzida em 2013, pelo grupo do biologista vascular Mark Post, da Universidade de Maastricht na Holanda.

Desde o ano passado, a Universidade Federal do Paraná já oferece o curso “Introdução à Zootecnia Celular”. A pesquisadora Bibiana Matte, da Núcleo Vitro, está desenvolvendo a primeira carne cultivada do País.

A primeira rodada da agricultura celular terá o investimento de R$ 200 mil, de um total de R$ 5 milhões disponibilizados em edital pela Fapergs (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul).

Promissor

A pesquisa considera que o cenário é promissor. O fator “curiosidade” segue como objeto de interesse pelos consumidores. A consultoria North Mountain Consulting Group divulgou que 80% das populações dos Estados Unidos e do Reino Unido experimentariam as carnes de laboratório.

Do ponto de vista dos investidores, o cenário também é otimista. As FoodTechs ainda respondem por uma pequena parte da indústria agroalimentar, mas já se posicionam na vanguarda do setor.

Algumas dessas startups já possuem até mesmo entrada no mercado de ações dos Estados Unidos, por exemplo. Vide a Beyond Meat, famosa pelo hambúrguer feito em laboratório e financiada por famosos como Bill Gates e Leonardo Di Caprio.

Grandes empresas brasileiras, também investem na tecnologia. O CEO Global da BRF, Lorival Luz, disse que a carne produzida em laboratórios deverá ser a grande responsável pela produção de proteínas no mundo nos próximos 20 anos.

Recentemente, a empresa assinou acordo com a startup israelense Aleph Farms para o desenvolvimento e produção de carnes cultivadas com exclusividade no Brasil. (com informações da Esentia Inteligência)

No episódio “Como será o agro do futuro”, entrevistamos a agtech israelense. Confira abaixo:

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