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Inovação

Pensando a inovação: ´desafio vai além de capital e vontade política`

Para Pompeo Scola, mais que inserir, é preciso viabilizar a inovação a produtores

  • Por Pompeo Scola*

Ninguém duvida que a solução do Brasil passa pelo Agro e que há grandes oportunidades de crescimento disruptivo nesta área, se aplicarmos inovação, criatividade e startups para capturar resultados que hoje acabam ficando desperdiçados no processo (antes, durante e depois) e passando por logística, produtividade, sustentabilidade, custos operacionais, inteligência agrícola, biotecnologia, rastreabilidade entre outras áreas do conhecimento.

Nos últimos anos, vejo o interesse e a intensidade de ações e programas que vem sendo desenvolvidos e apoiados pela área pública através de ministérios, entidades e agentes de fomento em prol da dita agricultura 4.0 e em tantos programas afins. Grupos de trabalho envolvendo centenas de agentes públicos e privados buscam construir uma agenda positiva de ações que despertem o agro para sua transformação digital.

Os fundos de investimento de venture capital anunciam seu interesse por este mercado e chegam a captar recursos específicos para investir nessa área.

Apesar de todos estes movimentos, se olharmos “ DO CAMPO PARA A CIDADE“ encontraremos poucas ações práticas e transformações realmente implantadas (em comparação ao esforço que vem sendo realizado), o que nos leva de volta ao título deste artigo: Um desafio muito além do Capital e da Vontade Política!

Sem a pretensão de fechar a questão, quero dividir com o leitor minhas reflexões sobre algumas das causas envolvidas.

Na questão dos fundos de venture capital (dinheiro para as startups crescerem), temos que considerar que a metodologia e o formato de avaliação das startups para investimento (principalmente no início de sua jornada, onde não tem indicadores representativos como clientes e faturamento para mostrar) dificultam aos executivos do fundo decidir pelo aporte.

As teses das startups do agronegócio são peculiares e pouco conhecidas pois passam por temas como biotecnologia, magnetismo, transformações no RNA, aplicações de ondas de luz alternativas, enfim, trazem muitos elementos de conhecimento incomuns aos fundos.

Vale salientar algumas iniciativas começam a surgir para resolver essa lacuna, temos por exemplo a SP Ventures, que se verticalizou em investimentos em agtechs, o Bossa Nova Agro que foi formado recentemente a partir do Bossa Nova com sócios verticalizados no agronegócio, tendo então mais conhecimento do campo para ajudar a decidir pelos investimentos e a Agroven (criada em 2019) que já reúne mais de 120 sócios em seu clube de investimento também focado para startups do agro.

Neste modelo, os sócios são do agro e decidem individualmente pelo investimento que é formatado em cotas pela Agroven (muito eficiente, pois permite uma avaliação de risco pertinente ao bolso e a história que cada associado ao clube).

Ainda assim a quantidade de recursos que é aplicado pelos fundos às startups do agro vem representando menos de 5% do total financeiro de investimentos feitos pelas VCs em startups aqui no Brasil em 2021. Conclusão: vai demorar para muitas dessas startups do agro virarem UNICORNIOS !

Nas iniciativas de fomento da área pública para o agro, vamos encontrar a hackathons, feiras regionais, eventos, criação de LABS para associações entre outras ações. Esta formula foi eficiente para outros segmentos da economia (as fintechs por exemplo).

O agro acontece longe das capitais brasileiras, tem um modelo cultural verticalizado na agropecuária (onde possui grande expertise), tem pouco contato com modelos alternativos de cultura social (ambiente importante para desenvolvimento desta nova economia (da inovação), assim o tempo (cronologia dos eventos) e o formato dos programas acaba sendo pouco eficiente em ativar a economia criativa.

Claro que os indicadores como quantidade de eventos, número de pessoas e entidades impactadas nos darão uma sensação de que a viagem de transformação está em andamento, porém os frutos não se materializam consoantes ao esforço de todos os recursos envolvidos.

Vejo com simpatia e esperança as iniciativas do AGRO para o AGRO nesta área.

Em algumas regiões do Brasil, aceleradoras e hubs de inovação montaram suas unidades dentro de municípios e regiões de referência para o agro, levando equipes treinadas que ficaram residentes e vem trabalhando o desenvolvimento da cultura da inovação in loco, evangelizando as comunidades locais e ativando atores do ecossistema para aquelas regiões, criando por assim dizer os aeroportos da inovação que podem conectar todos numa grande rede ou ecossistema. Repetiram o caminho dos empreendedores do agro: o campo se faz no campo.

Por fim deixo uma provocação para o leitor. Quando leio algumas das premissas dos programas da “agricultura 4.0″, aparecem frases como “promover a inserção do produtor rural na agricultura digital”… Fico pensando se não deveria ser “viabilizar os recursos da Transformação Digital para o produtor”.

Pode parecer só semântica, mas na segunda frase fica claro o desafio de traduzir, evangelizar, trabalhar a cultura do produtor para que ele se apodere destas tecnologias e recursos.

Quando vejo cronogramas de alguns dos programas desenhando um hackathon numa região desértica do ecossistema para ocorrer em 60 dias (sem nenhuma existência prévia das colunas necessárias para essa iniciativa frutificar), penso que, em época de pandemia, a transformação digital virou vacina que se aplica nos hackathons e tudo fica resolvido.

*Pompeo Scola é CEO da Cyklo Agritech – Aceleradora de Projetos e Startups

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