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O agro brasileiro já tem o seu Vale do Silício, e ele fica em Piracicaba (SP)

AgTech Valley reúne empreendedores em busca de investimento e investidores atrás do próximo unicórnio, aquela startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão

A desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias aumentou significativamente a produtividade e a renda do agronegócio brasileiro. Além disso, criou oportunidades para profissionais e empresas que antes miravam somente a economia urbana. O campo passou atrair mais do que filhos de agropecuaristas, agora jovens urbanos o veem como um caminho fértil para carreiras de sucesso. Para acelerar esse movimento, estão se formando hubs, clusters ou ecossistemas que reúnem vários atores, ou stakeholders, com a missão de desenvolver e incentivar a inovação nestes ambientes. Falamos disso no post de 7 de junho. Na semana passada, estive em Piracicaba (SP), visitando o principal deles. O AgTech Piracicaba Valley, ecossistema de inovação e empreendedorismo, posiciona-se como o “Vale do Silício” do agro brasileiro. Talvez ainda seja um pouco cedo para assumir essa posição, mas não há dúvidas de que essa comunidade em formação tem grande potencial para impulsionar o desenvolvimento de tecnologia e inovação para o setor. Afinal, está localizado em uma região que tem o agronegócio no sangue e é berço da mais antiga e tradicional escola de agronomia do país, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) . Dentre as várias ações promovidas pelo AgTech Valley está o AgTech Day, um encontro que acontece duas vezes ao ano e tem como meta fortalecer e compartilhar as conexões para novos negócios entre os principais atores de inovação e empreendedorismo do agro. Em sua quinta edição, reuniu uma grande quantidade de startups, investidores, pesquisadores, empresas e estudantes. Realmente um monte de gente debatendo o tema inovação e empreendedorismo. Foram várias startups apresentando suas soluções e, da mesma forma, vários investidores apresentando seus portfólios e perfil de startups investidas. É muito interessante esse tipo de encontro, cada um querendo vender a sua história na busca da melhor oportunidade de relacionamento. Apesar do entusiasmo de ambas as partes, fica claro que para chegar ao casamento o processo passa por um longo namoro, e na maioria dos casos nem acontece o toque de mãos. Comparando com relacionamentos sentimentais, esses encontros e apresentações rápidas (pitchs) me fazem lembrar do aplicativo Tinder: parece que a platéia está com a mão no teclado e precisa decidir entre deslizar para direita ou para a esquerda. No fim, tudo vira networking, novas amizades e muito aprendizado. Quanto ao casamento, bem, isso pode vir com o tempo. Em termos de aprendizado, ficaram algumas lições e dicas importantes dos debates entre startups e investidores. Vamos a algumas delas! O que o investidor busca em uma startup:
  • Equipe: demonstração do empreendedor de que é capacitado para liderar, atrair gente boa e comprometimento das pessoas envolvidas no negócio. Buscam startups que tenham mais de um sócio— dois a quatro —, com complementaridade de atuação, formando um time coeso e com propósito grandioso;
  • Mercado de atuação: procuram startups que resolvam um problema relevante, em um mercado grande e com muito potencial de expansão;
  • Tecnologia ou produto: que realmente faça a diferença e tenha valor para os usuários, e seja replicável e escalável, com potencial de transformar o negócio dos clientes.
O que o empreendedor busca no investidor, além do capital investido, é claro:
  • Conexão para crescimento futuro, ou seja, a rede de relacionamentos do investidor que venha proporcionar o tracionamento do negócio;
  • Ajuda na estruturação para o crescimento. Isso vale para todas as áreas da empresa, afinal de contas a experiência na gestão do negócio normalmente não é o forte para a maioria dos empreendedores iniciantes;
  • Governança na administração dos recursos, no planejamento e na formulação de políticas da gestão, que possibilite uma base segura para o crescimento;
  • Visibilidade dada por um investidor reconhecido também é muito valorizada, pois reforça a imagem de um negócio ou plano de negócios consistente.
Depois de muitas discussões e papos com startups, investidores e produtores, fica claro que estamos ainda em busca de amadurecimento deste mundo novo da disseminação da agricultura digital no Brasil. Ver o que está acontecendo hoje em Piracicaba, onde já existe uma profusão de novas empresas e empreendedores na busca de soluções para os problemas de produtores, é muito estimulante. Especialmente por ver que este ecossistema não tem dono. Ele é um movimento orgânico e pertence a toda sociedade piracicabana, que tem historicamente a tecnologia, inovação e a agricultura nas suas origens. É muito bacana e um estímulo para outras regiões do país também estimularem o desenvolvimento de novos caminhos para produzir mais e melhor.
AUTOR:

Daniel Azevedo Duarte

Daniel Azevedo Duarte é editor-chefe do AgEvolution do Canal Rural, Mestre em Jornalismo (UCM/USP), MBA em Agro (FGV) e entusiasta da inovação no agro. Também é professor em Comunicação no Agro na PUC de Campinas e correspondente de publicações internacionais sobre o setor.

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