Embrapa testa vacina contra mancha-bacteriana em tomates
Pesquisa apontou redução de 45% no prejuízo causado pela doença
Por Redação
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A Embrapa reduziu em 45% os danos causados pela mancha-bacteriana do tomateiro com uma espécie de “vacina” contra a doença. Com uma abordagem inédita, os cientistas utilizaram partes de bactérias do gênero Xanthomonas para induzir resistência nos tomates.
Bioinsumo pode reduzir a aplicação de produtos químicos contra a doença nos tomateiros. (Foto: André Fachini Minitti)
As bactérias usadas para induzir a resistência não são as causadoras da doença do tomateiro. Mesmo assim, elas estimularam o sistema imunológico das plantas, de modo semelhante ao que ocorre com as vacinas.
Os resultados podem dar origem a um bioinsumo capaz de reduzir a necessidade de produtos químicos aplicados hoje contra a doença. Além da baixa toxicidade, o novo produto pode ser aplicado em pequenas quantidades proporcionando vantagens ambientais e econômicas.
A Embrapa está em negociação com um parceiro privado para finalizar as pesquisas e levar o produto ao mercado.
“Essas partes do microrganismo utilizadas, especialmente a parede celular, desencadearam um reconhecimento rápido pela planta, estimulando seu sistema de defesa”, detalha o pesquisador da Embrapa Meio AmbienteBernardo Halfeld, coordenador do estudo.
A aplicação do bioinsumo foi feita por dois métodos: aspersão sobre as folhas (pulverização) e por gotejamento no solo. Ambos obtiveram sucesso. Um futuro produto comercial poderia ter métodos semelhantes de aplicação.
Como funciona
Os chamados elicitores, derivados de bactérias fitopatogênicas, apresentam os padrões moleculares capazes de serem reconhecidos por receptores presentes na célula vegetal.
Quando os elicitores de uma Xanthomonas são reconhecidos por receptores de plantas não hospedeiras, são ativados mecanismos que preparam a planta para desencadear a resistência sistêmica adquirida.
Embrapa procura parceiros para finalizar testes em escala industrial e levar o produto ao mercado.
Na pesquisa, 12 isolados de Xanthomonas foram infiltrados nas plantas. Dez apresentaram hipersensibilidade, uma reação de morte celular que ocorre de forma intensa, localizada e rápida quando a célula do hospedeiro reconhece que está sendo atacada. Ao morrer rapidamente, cessa o processo de infecção para as células vizinhas e a doença não avança.
A reação de hipersensibilidade resulta na morte rápida e localizada de um número limitado de células que circundam o local da infecção quando células bacterianas incompatíveis ingressam na planta, interrompendo o crescimento e desenvolvimento do patógeno no tecido vegetal, sendo um dos mecanismos de defesa mais importantes das plantas.
Os elicitores porém, quando extraídos e aplicados no tomateiro, não causaram danos às plantas, mas foram capazes de prepará-las para responder à doença assim que iniciado o processo de infecção.
A pesquisa
Conforme Camila Simões, mestranda da Unesp que trabalhou nesse estudo, esses componentes celulares de Xanthomonas desencadeiam reconhecimento incompatível rápido pela planta de tomateiro. Ela se baseou no fato de que bactérias desse gênero, que apresentam incompatibilidade ao tomateiro, constituem uma fonte de elicitores capazes de desencadear resposta que resulta em redução da severidade da mancha-bacteriana, com perspectivas de uso prático.
Próximos passos
O pesquisador Bernardo Halfeld esclarece que a prospecção de elicitores é o primeiro passo para desenvolver um produto para uso agrícola. “Por meio de parcerias com empresas do setor de bioinsumos é possível promover a obtenção de formulados com essas moléculas em grande escala”, diz. Além disso, os resultados podem oferecer uma alternativa para controlar outras doenças do tomateiro.
Halfeld explica que o estudo deverá impulsionar o processo de seleção de componentes biológicos para o controle de doenças bacterianas. “Isso porque, em diversas culturas de interesse agronômico, existem bactérias do gênero Xanthomonas que são potenciais provedores de elicitores dessa natureza”, declara. Por isso, há a perspectiva de que produtos semelhantes possam ser desenvolvidos para outras culturas e para diferentes doenças.
Além da baixa toxicidade e de poder ser aplicado em pequenas quantidades, proporcionando vantagens ambientais e econômicas, pode substituir os insumos de origem química atualmente utilizados para combater a doença. “Hoje, para o combate da mancha-bacteriana do tomateiro, o insumo mais empregado é um fungicida à base de cobre”, conta o pesquisador.
Em uma próxima etapa, o pesquisador e o aluno de doutorado da Unesp Valdeir Nunes pretendem ampliar os estudos para definir o efeito desses elicitores na doença e na planta até o estádio produtivo. O objetivo é verificar o efeito da tecnologia ao longo do ciclo do tomateiro, aliado a diferentes concentrações e outros modos de aplicação dos elicitores que possam promover uma gama maior de opções ao produtor. (com informações da assessoria de imprensa)