Biofábrica 4.0 beneficiará cacau e cupuaçu no coração da Amazônia
Projeto Amazônia 4.0 incluirá agricultores locais com alta tecnologia pela sustentabilidade do bioma
Por Daniel Azevedo Duarte
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O Projeto Amazônia 4.0 prevê inaugurar, em fevereiro de 2022, uma biofábrica de última tecnologia para beneficiar produtos agrícolas de agricultores locais, como cacau e cupuaçu, no município de Balterra (PA).
Unidade terá investimentos de R$ 5 milhões para operar com automação completa e IoT. (imagem – Projeto Amazônia 4.0)
Com investimento de R$ 5 milhões, a unidade funcionará a partir de automação e IoT (Internet das Coisas) e será capaz, por exemplo, de classificar as amêndoas de cacau de acordo com padrões internacionais, entre outros recursos.
O projeto é financiado principalmente pelo Laboratório de Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e também conta com apoio do Arapyaú, do fundador da Natura Guilherme Leal, Instituto Humanize e Instituto Clima e Sociedade (ICS), além do Good Energies Foundation (GEF).
A instalação será viabilizada através de uma parceria com a Conexus, organização sem fins lucrativos que trabalha para ativar o ecossistema de negócios comunitários, rurais e florestais, e a consultoria em Indústria 4.0 De Mendes.
O protótipo da fábrica já está em testes em São José dos Campos, interior de São Paulo, para produzir chocolates “bean to bar” (do grão à barra), ou seja, com todo o beneficiamento na própria unidade. Assim, as comunidades locais terão a oportunidade de agregar valor às suas produções.
Para se ter ideia, a Amazônia já produz mais cacau que a Bahia, tradicional referência na cultura. O Brasil produziu cerca de 260 mil toneladas de cacau em 2019, sendo o sétimo maior produtor do mundo.
Já o cupuaçu é uma fruta típica do bioma amazônico, mas também é produzida em quantidade na Bahia. Segundo o Governo Federal, o Brasil produziu cerca de 250 mil toneladas da fruta, que mobiliza 170 mil produtores, e já exportava ao menos US$ 20 milhões em 2005.
Amazônia 4.0
O Projeto Amazônia 4.0 visa concretizar um conceito operacional disruptivo e inovador, com base na bioeconomia. Desenvolvido como uma terceira via para a Amazônia, a iniciativa une as tecnologias da 4ª Revolução Industrial à bioeconomia, viabilizando processos locais com alto valor agregado.
O modelo possibilita conservar a biodiversidade amazônica e, ao mesmo tempo, oferece oportunidades econômicas por meio de alta tecnologia para beneficiar as cadeias de valor da região, com uma produção sustentável a partir de insumos como o cacau, o cupuaçu e a castanha do Brasil, entre outros.
Ao lado de parceiros e financiadores, o Amazônia 4.0 visa não apenas gerar novos negócios, mas entregar conhecimento que assegure a continuidade destes negócios, além de atrair empresas de todo o mundo para operar em harmonia com a floresta e seu povo.
Para além da instalação de tecnologias que possibilitem transpor os principais desafios de fabricar no contexto amazônico, com recursos como a automação e a manufatura inteligente, o projeto ofertará conhecimento.
“Ofereceremos formações, planejamento estratégico e negócios inovadores para o desenvolvimento de uma bioeconomia inclusiva, como cursos online de empreendedorismo e estruturação de negócios. Tudo isso impulsionado pela rica biodiversidade da floresta e em sintonia com os saberes ancestrais das comunidades”, destaca Ismael Nobre, co-líder do projeto e doutor em Dimensões Humanas dos Recursos Naturais.
Superando dilemas
Segundo o Projeto, a complexidade da região amazônica há anos tem seu debate pautado apenas na dicotomia exploração versus preservação, não contemplando todas possibilidades que a natureza oferece: alta tecnologia, resiliência, capacidade regenerativa, estratégias finas de sobrevivência.
Por isso, o grupo de pesquisadores uniram seus conhecimentos em assuntos amazônicos e às modernas tecnologias para ofertar uma solução que garanta desenvolvimento sustentável.
Outra iniciativa do grupo, por exemplo, visa garantir a propriedade intelectual dos genomas de espécies amazônicas às comunidades locais por meio de um biobanco.
Veja também o episódio AgEvolution “O futuro é biodigital”: